Como você
elogia os seus filhos? Você diz: como você é inteligente!
Ou: “Que linda você é, amor!”, “Acho você muito esperto, meu
filho!”, “Como você é charmoso!”, “Que cabelo lindo!”, “Seus olhos são tão
bonitos!”.
Elogios como esses não estão baseados em fatos,
nem em comportamentos ou atitudes. São apenas impressões e interpretações dos
adultos. Em breve, essas crianças estarão fazendo chantagens emocionais,
birras, manhas e “charminhos”. Quando adultos, não terão desenvolvido
resistência à frustração e a fragilidade emocional estará presente.
“O ser humano foge de
experiências que possam ser desagradáveis. A maioria das crianças, elogiadas
apenas pela sua inteligência e esperteza, não quiseram se arriscar a errar,
pois o erro poderia modificar a imagem que os adultos tinham delas. Já as
crianças elogiadas pelo seu esforço, dedicação à tarefa ou persistência, se
dispuseram a tentar, porque independente do resultado da sua ação, a sua
postura frente ao trabalho é que seria reconhecida.”
A influência dos elogios no desempenho
das crianças
Os pais, regra geral têm
tendência a elogiar os filhos pelos seus feitos. Tudo começa quando eles são
bem pequeninos, e fazem cocó sozinhos (sem bebé gel) aos 3 dias de gente:
“Espectacular, conseguiu logo, vê-se que é uma criança determinada”.
Pronto! Começou a asneirada.
Todos sabemos que os nossos filhos, ao nossos olhos, são
perfeitos. Mas os pais tornam-se perfeitos idiotas quando elogiam
excessivamente uma criança: 1º porque ela não é estúpida, sabe que a sua
primeira letra não foi fantástica, foi razoável. E se não se aperceber na
altura do elogio vai perceber quando escrever o alfabeto completo, voltar ao
início do livro e se deparar com as suas primeiras palavras escritas; 2º porque
estamos a abrir a porta à preguiça, e à insolência (na melhor das hipóteses) .
Há
elogios positivos, que reforçam a auto-estima dos miúdos, fazendo com que
queiram continuar a tentar realizar tarefas. Há outros que são ocos, frívolos e
apenas afagam o ego dos pais que muitas vezes não despendem o tempo que queriam
com os seus filhos, e elogiam-nos constantemente para reforçar algo que não
sabem bem o que é. Eu faço-o às vezes. E no momento sinto-me bem, mas sei que a
longo prazo estou a fazer-lhes mal!
O Psicólogo e Mestre em Educação Marcos Meier, realizou uma
palestra sobre “A Influência dos Elogios no Desempenho das Crianças e na
Formação de Valores” em que documenta de forma muito interessante este tema.
“Recentemente, um
grupo de crianças pequenas passou por um teste muito interessante. Psicólogos
propuseram uma tarefa de média dificuldade, que elas executariam, contudo, sem
grandes problemas. Todas conseguiram terminar a tarefa depois de certo tempo.
Em seguida, foram divididas em dois grupos.
O grupo A foi
elogiado quanto à inteligência: “Uau! Como você é inteligente!”, “Como você é
esperto!”, “Que orgulho! Você é genial!”… E outros elogios relacionados à
capacidade de cada criança.
O grupo B foi
elogiado quanto ao esforço: “Parabéns! gostei de ver o quanto você se dedicou
nesta tarefa!”, “É muito bom ver o quanto você se esforçou!”, “Como você é
persistente! Tentou, tentou, até conseguir… Muito bem!” E outros elogios
relacionados ao investimento realizado e não às capacidades percebidas na
criança.
Depois dessa fase,
uma nova tarefa de dificuldade equivalente à primeira foi proposta aos dois
grupos de crianças. Aqui, elas podiam escolher se queriam ou não participar da
mesma.
As respostas das
crianças surpreenderam. A grande maioria das crianças do grupo A não
participou.
Não quiseram nem
tentar. Por outro lado, as crianças do grupo B aceitaram o desafio. Não
recusaram a nova tarefa.
A explicação é
simples e nos ajuda a compreender como elogiar nossos filhos e nossos alunos. O
ser humano foge de experiências que possam ser desagradáveis. A maioria das
crianças, elogiadas apenas pela sua inteligência e esperteza, não quiseram se
arriscar a errar, pois o erro poderia modificar a imagem que os adultos tinham
delas. Já as crianças elogiadas pelo seu esforço, dedicação à tarefa ou
persistência, se dispuseram a tentar, porque independente do resultado da sua
ação, a sua postura frente ao trabalho é que seria reconhecida.
Sabemos de “N” casos
de jovens considerados muito inteligentes não passarem no vestibular, enquanto
aqueles jovens “médios” conquistam essa vitória. Os “inteligentes”, muitas
vezes, confiam na sua capacidade e deixam de se preparar adequadamente. Os
outros sabiam que se não estudassem muito não seriam aprovados e, justamente
por isso, estudaram mais, resolveram mais exercícios, leram e se aprofundaram
em cada uma das disciplinas.
No entanto, isso não
é tudo. Além dos conteúdos escolares, nossos filhos precisam aprender valores,
princípios e ética. Precisam respeitar as diferenças, lutar contra os
preconceitos, adquirir hábitos saudáveis e construir amizades sólidas. Não se
consegue nada disso por meio de elogios frágeis, com enfoque apenas no ego de
cada um. É preciso que sejam incentivados constantemente a agir assim. Isso se
faz com elogios, feedbacks, e incentivos ao comportamento esperado.
Nossos filhos
precisam ouvir frases, como: “Que bom que você o ajudou, você tem um bom
coração”, “Parabéns, meu filho, por ter dito a verdade apesar de estar com
medo… Você é ético”, “Filha, fiquei orgulhoso de você ter dado atenção a sua
colega novata ao invés de tê-la excluído, como algumas de suas colegas o
fizeram… Você é solidária”, “Isso mesmo, filho; deixar seu primo brincar com
seu videogame foi muito legal, você é um bom amigo”.
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